Os Barões do café no Brasil — Exportação do café Parte 2

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Conforme prometido no último texto, vamos continuar com a nossa conversa sobre exportação de café e como os grãos foram fundamentais para grande parte do processo social do Brasil!

O início do plantio nas lavouras brasileiras veio por meio dos próprios fazendeiros e comerciantes. Essas pessoas haviam juntado bastante dinheiro, desde que a Família Real chegou ao Brasil e já faziam a exportação de café na época.

Nos anos 1836 e 1837 a atividade desses fazendeiros era intensa e os mesmos eram conhecidos como “Barões do café”. A força do segmento fazia muito sentido. Para se ter ideia, em 1845, o Brasil era responsável por 45% da demanda de exportação de café no mundo. 

O plantio nas lavouras era muito rentável. Assim, o café tomou o lugar de exportação do açúcar — até então o produto mais exportado do Império. 

A exportação de café e as intermediações dos grãos

Outra função de destaque era o comissário do café. Essa pessoa tinha a função de intermediar ações entre os latifundiários e os exportadores de café. Dessa forma, mantinham o controle e equilíbrio dos preços, além do acesso aos créditos financeiros. 

Com o passar do tempo, a diversidade de idiomas invadiu o Brasil: italianos, portugueses, espanhóis, russos, austríacos, romenos, poloneses, alemães e japoneses. 

Entre 1850 e 1889, o total de imigrantes chegava a quase 900 mil pessoas — sendo que a maioria se instalava nas fazendas paulistas para o trabalho nos cafezais. 

O sistema de modernização das lavouras brasileiras

Mas com a demanda cada vez maior e o fim da mão-de-obra escrava, os fazendeiros precisavam de uma solução para modernizar a atividade. Assim, surgiu o Sistema Financeiro Nacional implantado pela Família Real Portuguesa, em 1808. 

A reestruturação necessitava de um processo que fomentasse o sistema produtivo, bem como a infraestrutura brasileira.

Os recursos vieram de bancos estrangeiros e trouxeram modernidade. Tanto que foi desse jeito que ferrovias, portos modernizados, estradas e locais para o beneficiamento do café foram idealizados. 

Infraestrutura brasileira e exportação de café para o mundo

No caso do contexto político, o café também foi fundamental no Brasil. Tanto que a famosa política do Café-com-Leite se deu por meio de um revezamento de poder à frente da presidência entre São Paulo e Minas. 

Na época, os estados eram os principais produtores do Brasil. Inclusive, esse papo vale um texto, que em breve vou escrever para você. Prometo não esquecer!

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No início do século XIX, esse processo de profissionalização ganhou força com a criação do Convênio de Taubaté (cidade paulista onde o tratado foi assinado). A proposta visava solucionar a alta produção de café, que iniciou em 1906. 

Os estados criaram uma mesma regra para a defesa dos preços. Sendo assim, não seria permitido oscilações de preços. Depois da sucessão do então presidente da república, Rodrigues Alves, o café ganhou espaço na pauta federal. Já que o mineiro Afonso Pena era defensor dos grãos brasileiros e estava no posto mais alto da nação. 

A política do Café-com-leite e a influência do café

Convênio de Taubaté interferiu positivamente no mercado de café. Sendo que o destaque, segundo pesquisadores, fica com a criação do Instituto do Café de São Paulo. O órgão surgiu para regulamentar o escoamento das safras – ou seja, o café que sobrava nas fazendas e não era vendido. 

Dessa forma, as “sobras” da exportação e do consumo interno podiam ser comercializadas a preços competitivos.  Sendo um dos motivos da “sobra das safras” foi a corrida pelos altos preços praticados com a venda do café ao exterior. 

O resultado foi o plantio excessivo de café e acúmulo de estoque. No fim do século XIX, grande parte da exportação brasileira era do café. Mas isso só foi possível devido ao consumo dos mercados dos Estados Unidos e Europa. 

O número era tão relevante que representava aproximadamente 80% da balança comercial do país. 

O mercado cafeeiro e a quebra da bolsa de Nova Iorque

O mercado cafeeiro estava a todo vapor. Na década de 1920, o Brasil produziu 167,3 milhões de sacas. Desse total, 137,7 milhões eram cafés exportados e 29,6 milhões destinados ao consumo dos brasileiros. Até que a quebra da Bolsa de Nova Iorque, em 1929, trouxe reflexos negativos para o Brasil. 

Com tudo que havia ocorrido em Nova Iorque, os reflexos foram imediatos. A “Grande Depressão”, como ficou conhecida a quebra da Bolsa de Nova Iorque, trouxe pavor. E fez com o que os títulos das empresas caíssem e chegassem a 1 ⁄ 3 do valor comercializado.

No Brasil, o presidente Washington Luiz estava em campanha pela reeleição e viu o caos chegar ao país. Um mundo encantado, né? Mas aprendi, desde muito cedo, que “dinheiro não aceita desaforos”. Então, a ilusão de “dinheiro fácil” que motivou muita gente, também representou uma ruptura no sistema bancário.

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A crise do café no Brasil

Os produtores de café conheceram o resultado da desorganização. A turma achava que o sistema bancário era a “casa da mãe Joana”. Já que a ideia de emissão de dinheiro sem coordenação refletiu em alta da inflação, déficits orçamentários, inflação e, consequentemente, em crise financeira.

O reflexo da falta de dinheiro trouxe abandono das lavouras de subsistência. Além disso, a importação de outros alimentos cresceu bastante nessa época. Já que muitos agricultores visando o lucro do café deixaram outras plantações de lado.

Oferta X Demanda: a crise descontrolada do café brasileiro 

A expansão descontrolada ainda gerou uma oferta muito maior do que a demanda. Ou seja, produzia-se muito café, mas não tinha para quem vender todo o estoque. Todo esse processo necessitou de uma política econômica bem articulada. Dessa forma, nasceu uma nova relação financeira com o exterior.

O preço do café desmoronou e o mercado sentiu. Em busca de equilibrar a oferta e a procura no mercado, o Instituto do Café de São Paulo, mais uma vez, comprou o excedente e estocou.

A queda dos preços na exportação de café

Os reflexos chegaram com o valor do café em 22,54 centavos de dólar por libra-peso em setembro de 1929 para 14 centavos no início de 1930. Junto a isso veio a safra volumosa, indecisão e depressão econômica.

No mercado interno a queda foi de 40%, o que provocou redução do salário de mão-de-obra. Getúlio Vargas era candidato oposicionista, mas perdeu as eleições para Washington Luís, deposto pelo governo Militar.

A influência de Getúlio Vargas na história do café brasileiro

Nesse contexto, Vargas assumiu e soube usar a crise cafeeira a seu favor. Tanto que em maio de 1931, ele criou o Conselho Nacional do Café e puxou a responsabilidade para o governo. Entre as ações, Getúlio cancelou 50% das dívidas dos cafeicultores. 

Além disso, teve como foco a compra das “sobras”. Dessa forma, cerca de 100 milhões de sacas foram retiradas do mercado. Para contextualizar a necessidade de interferência federal, antes da crise, a saca de café batia 215 mil réis. Enquanto, em 1931, o preço médio não passava de 25 mil réis.

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O fim da exportação de café e a fogueira em Santos

Mas o que fazer com todo o café estocado? Getúlio Vargas mostrou protagonismo e entrou, definitivamente, para a história do café com a queima de aproximadamente 18 toneladas de grãos. Ele ordenou que uma fogueira fosse feita na Baixada Santista e o café foi queimado, até o fim do ano. 

Assim, ele forçou o aumento dos preços dos grãos, já que a oferta não era excessiva. Esse marco simbólico ficou conhecido no mundo. Quando foi em fevereiro de 1933, o Conselho Nacional do Café chegou ao fim. No lugar, foi criado o Departamento Nacional de Café, em que os poderes dos estados produtores eram eliminados. 

O aprendizado, na prática

Apesar de todo o esforço de Vargas, muito café verde (sem torrar) ficou no poder do governo por décadas seguintes. Aliás, eu tenho uma história que passa por esse café guardado. Em 1989, meu pai e o meu avô haviam pegado as operações da Fábrica da 3 Corações, como a única saída de salvar o patrimônio da família. 

Inclusive, tenho várias lembranças de almoços em casa em que o assunto era o mercado de café. Certo dia, cheguei correndo pelos corredores da fábrica, que fica em Santa Luzia (Região Metropolitana de BH). 

Lembro-me como se fosse hoje, daquele dia. Era uma tarde de segunda-feira, do ano de 1994. Entrei abrindo as portas da sala do meu pai e ele estava atento com os ouvidos no telefone.

Carinhosamente, pediu silêncio com as mãos e no olhar me convidou para sentar. Aquele dia, ele estava participando de um leilão nacional do café estocado pelo governo. Ele comprou um tanto daquele café, que foi torrado e vendido para o mercado interno. 

O preço estava bom e ele saiu feliz com a xícara de café nas mãos para contar a novidade para o meu avô. Eu não entendi nada do que tinha acontecido. Mas o sorriso do meu pai me mostrou que o negócio tinha sido bom e valia um brinde lá na copa da fábrica. E foi exatamente isso que fizemos, com os copos nas mãos e muita alegria no fundo da xícara.

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